sábado, 16 de abril de 2016

Pecado repetido, perdão dobrado

“Cuidado, se você insistir tanto no Pecado recorrente chegará a hora que o Senhor não mais o perdoará”. Foi o que eu ouvi em uma pregação de um pastor que tinha recebido o convite para visitar nossa igreja. Devia ter uns 14 anos de idade e confesso, essa pregação me perseguiu durante muitos anos. Imagine a cabeça de um adolescente com todas as questões relativas a sexualidade, mentira, sobre o que é certo e errado, foi um verdadeiro tormento.
Já entrou para a conta dos sem número de vezes que tive de abordar o tema do “Pecado vs Perdão” e o que tenho percebido é que “batemos cabeça” porque não conhecemos as escrituras.
Foi plantada dentro de nós a ideia de que tudo na vida tem sua causa e sua consequência e de certa forma essa afirmação não está incorreta, porém a questão é que nós não contávamos e não contamos que antes mesmo da causa do que quer que seja, a graça e o perdão já estão postos à mesa. Não quero, contudo, afirmar que o Pecado não leva a morte e não traz consigo duras consequências locais e devastadoras, agora são necessárias conceber algumas verdades.
Como disse o Lutero:
“O pecado não acaba totalmente enquanto vive este corpo. Enquanto vivemos, também o pecado original vive, até o último suspiro. Ele pode ser abafado, mas jamais aniquilado por completo, senão pela morte física; Não é bom pensar que, depois da conversão, o pecado não precisa ser levado a sério. Pecado é sempre pecado, seja ele cometido antes ou depois de conhecer a Cristo (…) Os cristãos têm os mesmos pecados e tão grandes pecados quanto os dos não cristãos. Porém o pecado dos cristãos é perdoado; Não somente pecamos, como também continuamos a pecar; Devemos nos humilhar, para que o mal horrível, chamado pecado original, possa ser contido. Deus deseja nos livrar do pecado que está grudado em nós”.
Engana-se quem acha que o fato de entrar para um corpo religioso cristão garante a impecabilidade, quando na citação Lutero fala que “o pecado dos cristãos é perdoado”, ele não se refere aos participantes de uma instituição religiosa, mas daqueles que se reconhecem em Cristo, perceba que não é necessariamente a mesma coisa. Ele fala de uma convicção sustentada pela fé naquele que preparou o antídoto antes do veneno.
Continuo citando Martinho Lutero:
“Enquanto você viver e até quando estiver morrendo, você tem perdão. Se você sentir o peso do pecado esmagando-o, você ainda pode dizer que seus pecados estão perdoados. Quando os seus pecados o assombrarem, corroerem e aterrorizarem, você pode olhar mais para Cristo, colocar sua frágil fé nele e segurar sua mão firmemente”.
A bandeira de paz da Trindade que pagou a nossa conta estará sempre a eras de distância à nossa frente com relação ao nosso pecado. Isso fica claro quando o salmista diz: “O Senhor é bondoso e misericordioso, não fica irado facilmente e é muito amoroso. Ele não vive nos repreendendo, e a sua ira não dura para sempre. O Senhor não nos castiga como merecemos, não nos paga de acordo com os nossos pecados e maldades (..) Pois ele sabe como fomos feitos; lembra que somos pó” (Salmos 103.8-14)
O movimento de Cristo é sempre o de perdoar. Ele não leva em conta os nossos méritos e deméritos, pois sabe quem somos e o que somos capazes de fazer. Ao contrário dos “capatazes” da religião que impõe sobre os ombros dos fiéis um peso incomensurável para ao final oferecer uma falsa expiação e alívio de culpas por meio do esforço humano que leva apenas à frustração e a constatação de que não somos capazes de vencer o pecado com nossos braços. Exemplo: “Quer namorar? Pergunte pra mim, seu pastor,  quem é a pessoa ideal”; “Vai namorar? Só pode pegar na mão ou então ficará no banco no ministério do louvor”; “Não se aguentaram e transaram antes do casamento? Estão debaixo de maldição e uma penitência severa deverá ser paga pra limpar a barra do casal”; “Tem impulsos HOMOSSEXUAIS? Tinha é que tomar umas porradas pra aprender a ser homem, sem falar que já começou o inferno pra você”
segura-na-mao-de-Deus
Se percebermos que outro ensino está vindo em direção contrária ao fato de que antes da culpa veio o perdão, precisamos orar e pedir discernimento com relação a qual trilha seguir, a do medo de um Deus castigador ou na liberdade de um Pai amoroso que não deseja que pequemos, mas ainda que o façamos nos sustenta com seu sacrifício, perdoando nossas faltas mesmo antes delas virem à prática.
Nossa maior idiotice é sentir medo de Deus.
Que tal ao invés disso mergulhar neste universo de perdão e aceitação? Será que conseguimos oferecer um abraço antes de sabermos se este ou aquele o merece? Será que estamos prontos a seguir pela trilha do perdão que despreza às desculpas?
De uma coisa eu sei, nossos pecados estão perdoados, vamos e não pequemos mais, no entanto, se o fizermos, sabemos a quem recorrer quantas vezes for necessárias.
Que o Pai nos pegue no caminho.

Da Redação/Minha Vida Cristã

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